Por Wilma Emilia.
É difícil escrever sobre este novo Homem-Aranha sem comparar com a trilogia de Raimi, mas inevitavelmente comparando... É estranho sentir nostalgia em uma franquia que sofreu um reboot dez anos após a sua estreia - ainda mais quando o último filme deixou um gosto de quero mais. Por mais que Homem-Aranha 3 tenha tido as suas falhas grotescas ainda foi um filme capaz de emocionar no final - confesso que algumas lágrimas cairam na cena da morte de um certo personagem. Uma trilogia se encerrou mas outra poderia muito bem dar continuidade à saga do herói sem precisar de um reboot tão cedo. Aliás para que um reboot contando a origem do herói se até uma criança sabe como tudo aconteceu?
Esse é justamente o problema que o Espetacular Homem-Aranha teve que enfrentar. A necessidade de se desvincular de seus antecessores que estão tão frescos na memória de quem os assistiu fez com que realmente tudo mudasse. Nada aqui lembrará os filmes de Raimi, a atmosfera é mais densa, o clima mais sombrio, porém o resultado final deixa a desejar. Algumas coisas dos quadrinhos foram introduzidas como Gwen Stacy, a primeira namorada do herói, os lançadores de teia, o vilão Lagarto, e o Capitão Stacy, pai de Gwen, Norman Osborn, além do Tio ben e da Tia May. Esses elementos são um prato cheio para os fãs do aracnideo e talvez sejam capazes de confundi-los sobre a real qualidade da adaptação, mas a realidade é que por mais que tenha elementos fiéis aos quadrinhos e por mais que tenha se esforçado o filme falha em ser inovador, algo que teria que o ser por obrigação já que está à sombra dos filmes de Raimi.
Em o Espetacular Homem-Aranha somos apresentados à um Peter Parker assombrado pelo trauma do desaparecimento
misterioso de seus pais ainda quando criança, o que acaba por motivar a sua
busca por respostas. A sua busca o leva
ao Dr. Kurt Connors, cientista que estuda
os efeitos da regeneração de células em animais (aparentemente motivado pela sua
própria deficiência) e que possui uma
ligação com os pais de Peter. Coincidência
ou não (sim!), as pistas deixadas pelos pais de Peter também o leva à Oscorp, empresa
que financia os experimentos do Dr. Connors, onde o cientista também é
pressionado a encontrar a cura de uma doença terminal para o fundador da
Oscorp, Norman Osborn. Coincidência ou não (yes!),
Gwen Stacy, garota por quem Peter se sente atraido, é estagiária chefe
na Oscorp. Ao se infiltrar na Oscorp, a
presença sem autorização de Peter passa despercebida por todos exceto...por
Gwen Stacy que por conhecê-lo faz vista grossa à
presença do rapaz no local. Ao espionar um laboratório da Oscorp o rapaz acaba
picado por uma aranha alterada geneticamente e pouco depois descobre que
adquiriu habilidades semelhantes às das aranhas.
Tudo na vida de Peter parece ter caído do céu, o
garoto não é mais o azarado que pena para conseguir o seu lugar ao sol e sim o
maior sortudo do mundo. Até mesmo a
idéia para a criação do uniforme parece ter caído do céu...não, minto, Peter
caiu em cima da 'idéia'. Não que as
coincidências não existam na origem do herói nos quadrinhos(e até mesmo na
origem do filme de Sam Raimi), mas se a idéia era tornar a origem verossímil,
que ao menos passassem longe de coincidências.
Até que o problema das
coincidências não se tornam tão graves diante da evolução de Peter no
filme. O personagem carece de evolução porque já é uma pessoa forte por natureza
desde o início do filme. A partir da morte do Tio Ben, que diferença fez quando ele se tornou o Homem-Aranha
além das mudanças físicas? O que mudou
em sua personalidade, além do fato de ser um grande piadista quando veste a
mascara? E pior, em algumas piadas acaba parecendo um arrogante pretencioso. As
piadas sempre foram uma característica do Homem-Aranha nos quadrinhos mas aqui algumas
se tornam forçadas, e preciso dizer que me lembrou aquelas piadas infames dos
Power Rangers( pelo fato destes também usarem mascaras eu acho).
Por falar em máscaras outra
coisa irritante foi o fato de Peter ser visto a cada cinco segundos por
qualquer cidadão de Nova York sem a mascara no filme, o que torna o ato de tirar a máscara (algo tão importante no mundo dos
super-heróis), algo meramente banal. O vilão Lagarto - embora tivesse enorme potencial - acabou se tornando pouco memorável devido ao péssimo desenvolvimento do personagem.
O filme não foi um
desastre total, visualmente (muito pouco em essência devido à todos os
agravantes supracitados) este Homem-Aranha 'É' o Homem-Aranha dos quadrinhos. O
uniforme diferente não estraga as poses arrojadas e dinâmicas características
do herói nos quadrinhos. A ação eletrizante e os efeitos especiais são os
melhores feitos para um filme do aracnídeo até hoje. No quesito ação e diversão é um filme gostoso
de ver. Uma coisa que definitivamente irá agradar aos fãs é a existencia dos lançadores de teia, assessório que o Homem Aranha sempre usou nas histórias em quadrinhos. Os atores também estão bem e fazem
o que podem diante de um roteiro cansativo e cheio de furos.
Como uma trilogia já foi
confirmada, talvez os furos no roteiro façam algum sentido...ou não. Mas todo
fã do teioso sabe que um acontecimento importantíssimo nos quadrinhos
envolvendo a namorada de Peter, Gwen Stacy, provavelmente deva acontecer em
algum dos dois filmes restantes, e que vale a pena aguardar pelas próximas
continuações de O Espetacular Homem-Aranha...mas claro, dependendo de
acertarem a mão nos roteiros vindouros da trilogia.
O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-man).
Diretor: Marc Webb.
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Martin Sheen, Sally Field.
Duração: 137 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Ação
Nota: 3,5 (Três frames e meio)
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